Assim como outros mercados dentro do agronegócio, o preço do trigo é fortemente influenciado pelas condições do cenário internacional. Entre os fatores que mais podem resultar em variações nos preços, estão: produção em diferentes regiões, as condições climáticas, as políticas governamentais e as preferências de consumo.

Compreender as dinâmicas dessa cadeia pode fazer com que você, agricultor, consiga estar a par das tendências que possuem chance de impactar (e muito) o posicionamento do seu negócio com a commodity. Leia este blog para se atualizar sobre!

O que pode impactar o preço do trigo?

A partir do ano de 1990, mais precisamente em 22 de novembro, o mercado de trigo foi desregulamentado, ou seja, passou a ser livre, em todo território nacional, a comercialização e a industrialização do trigo de qualquer procedência, sem os agentes econômicos estarem mais presos a limites, cotas e controles do governo, inclusive para a importação do grão.

Essa mudança consta na Lei 8.096, que revogou o Decreto-Lei 210/1967. Com isso, os preços do trigo recebidos pelos produtores brasileiros de trigo passaram a ser formados de fora para dentro, pela paridade de importação.

Portanto, hoje os moinhos brasileiros pagam pelo cereal produzido no país um preço que, no máximo, seja equivalente à opção de aquisição internacional.

Pensando no mercado interno, os dois fatores que mais influenciam na formação do preço do trigo são as cotações internacionais, que têm como balizadoras as Bolsas de Mercadorias dos Estados Unidos e direcionam o comportamento dos preços nas diversas regiões do planeta.

Juntamente com o comportamento cambial (R$ x US$), que interfere na intensidade do repasse das cotações externas ao mercado doméstico.

A referência do MERCOSUL

No âmbito global, a referência para a formação de preços do trigo são as Bolsas norte-americanas. Mas, no caso do Brasil, os preços estão mais atrelados ais valores de venda verificados nos exportadores do MERCOSUL, que possuem vantagens tributárias e logísticas para fornecer o cereal.

Seja em grão ou em farinha, a Argentina é o maior fornecedor de trigo ao Brasil. Dessa forma, é a principal referência para os preços para os produtores e moinhos brasileiros.

Como o país vizinho é tomador de preços no mercado global, cuja referência são as Bolsas norte-americanas, os preços nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil são altamente correlacionados.

A partir da desregulamentação do mercado de trigo (1990), da criação do MERCOSUL (1991) e da valorização da moeda brasileira com o Plano Real (1994), esta paridade tem como base os preços que os parceiros do bloco econômico do Cone Sul colocam seus excedentes nos moinhos brasileiros.

Por outro lado, a referência para a venda do cereal nos exportadores do MERCOSUL é a paridade de seu produto com o de seus principais concorrentes no abastecimento brasileiro (Estados Unidos, Canadá e Rússia).

Resumindo: as Bolsas norte-americanas são referência para os preços globais, porém, o repasse das cotações norte-americanas para o Brasil ocorre via países do MERCOSUL (em especial Argentina pelos grandes volumes exportáveis).

Cenário atual: alerta em relação ao clima e contexto crítico na Europa

Segundo análises da Agroconsult, as vendas de trigo americano vieram abaixo das expectativas: apenas 309 mil toneladas. Contudo, o comprometido acumulado da safra veio em pouco mais de 8 milhões de toneladas — 55% maior do que o ano passado e 16% superior à média dos últimos 3 anos.

Com um progresso antecipado na colheita do trigo de inverno e boas condições no cereal de primavera, a safra americana continua pressionando os preços internacionais para baixo.

Pensando no contexto europeu, o avanço da colheita na França (principal país produtor da commoditie no bloco) tem indicado as menores produtividades desde a década de 1980. A principal causa dessa situação está relacionada à escassez de chuvas. O mesmo problema também está sendo observado na Itália.

Por outro lado, na Argentina, o clima colaborou para o desenvolvimento da cultura. Um melhor regime de chuvas e temperaturas menos intensas permitiram que as condições de cultivo fiquem acima da média.

O clima também tem sido positivo para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e China. Mesmo assim, os futuros de trigo na CME fecharam a semana com uma valorização de 0,6% no primeiro vencimento, valendo USD 5,42/bu.

No mercado interno, os preços do trigo tiveram comportamentos divergentes mais uma vez. Enquanto no Paraná houve uma valorização de 1%, indo para BRL 1.572/t, no Rio Grande do Sul o preço perdeu 1% para BRL 1.459/t.

Andamento da safra nas principais regiões produtoras

A Região Sul é responsável por concentrar a maior parte das regiões produtoras de trigo, de forma que o estado do Rio Grande do Sul é o que mais se destaca.

Por ser caracterizada como uma cultura de inverno, as condições climáticas típicas da região favorecem o desenvolvimento da cultura.

Rio Grande do Sul

De acordo com a Emater/RS-Ascar, com a melhora do clima nos últimos dias, o plantio está finalizado em 1.312.488 hectares, atingindo a projeção feita anteriormente. Grande parte desse sucesso é atribuído às chuvas ocorridas nas últimas semanas.

Como o período é marcado por uma menor evapotranspiração, em geral, a umidade no solo se normalizou. O Informativo Conjuntural Emater/RS-Ascar divulgado na última quinta-feira (8) indica que o aumento da umidade permitiu o manejo adequado da adubação nitrogenada em cobertura, proporcionando a recuperação do porte das plantas e o aumento da área foliar e favorecendo a emissão de perfilhos.

Na maioria das lavouras, a fase observada é de desenvolvimento vegetativo, com 98%, enquanto 2% estão em florescimento, e a produtividade prevista esta safra é de 3.100 kg de trigo por hectare.

Com o aumento das chuvas, é possível que se intensifique o aparecimento de doenças causadas por fungos em algumas áreas, além do aparecimento do azevém e de plantas dicotiledôneas nas lavouras.

Paraná

Já no Paraná, o plantio do trigo já foi finalizado, conforme dados do Deparamento de Economia Rural (Deral). O órgão ressalta que a área ocupada com a cultura foi revisada para 1,16 milhão de hectares, o que representa um decréscimo de 18% em relação à área colhida em 2023 (1,42 milhão de hectares).

De acordo com previsão do sistema estatal Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), geadas moderadas são esperadas para a maior parte do Estado, em praticamente toda a faixa central, no sul, sudoeste e sudeste. Uma parcela menor do Paraná terá geadas fortes, enquanto o norte verá o fenômeno com fraca intensidade.

Até o início da última semana, 1% da área plantada no Paraná havia sido colhida; 38% das lavouras estavam em frutificação e 25% em floração, fases suscetíveis a perdas por geadas.

O Deral afirma que o 27% do trigo paranaense ainda estava em fase de desenvolvimento vegetativo, quando o frio intenso não gera problemas, assim como acontece na parcela em maturação (10%).

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra de trigo do Paraná será em cerca de 3 milhões de toneladas, de um total de quase 9 milhões de toneladas esperadas para todo o Brasil.

O Deral afirma que o trigo no Paraná está 1% em fase de germinação, 46% em desenvolvimento vegetativo, 27% em floração, 24% em frutificação e 2% em maturação. Em relação às condições, 12% das lavouras constam como ruins, 22% médias e 66% boas.

Santa Catarina

Por fim, em Santa Catarina, segundo boletim agropecuário deste mês da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), as condições de desenvolvimento das lavouras de trigo seguem dentro na normalidade.

As lavouras já semeadas possuem boa germinação e desenvolvimento vegetativo. Em praticamente todas regiões do estado as condições climáticas, com temperaturas baixas e alternância de dias chuvosos e ensolarados, permitiram um bom desenvovimento da safra.

Em junho, a estimativa de área plantada foi reduzida em 10,4% no mês de junho. A produtividade média estadual está estimada em 3.493 kg/ha, representando um aumento de 56,1% em relação à safra passada.

Portanto, a projeção é de que neste ano a produção de trigo em Santa Catarina chegue a 430 mil toneladas, o que representa um aumento de 39,83% em relação à ultima safra, que foi de 307.634 mil toneladas.

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